VIDAS QUE NINGUÉM VÊ: RELATOS DE TRABALHADORES SOCIAIS

 Todas as situações ao mesmo tempo.

Trabalho na assistência social acompanhando a situação escolar de crianças e adolescentes atendidos por nosso serviço, que é municipal. Nas visitas domiciliares tenho encontrado famílias preocupadas em sobreviver... algumas não dimensionam o que está acontecendo no planeta. Outras, ainda tendo que lidar com situações de violências de diversas ordens. Em muitos casos, vivem todas as situações ao mesmo tempo. Em uma casa encontrei 6 crianças, onde a responsável tem 3 filhos e estava cuidando de mais 3 crianças, cuja mãe está impossibilitada de cuidá-las. Na pequena e úmida casa, a mulher me dizia que a única TV que possui não é suficiente para que todos acompanhem as videoaulas. Ela tem pego apostilas na escola para estudarem (...). Me mostra uma velha escrivaninha que pretende reformar para as crianças terem onde realizar as tarefas. Em uma outra família, a responsável pelas crianças diz que está muito difícil acompanhar as atividades pela TV. Conta que uma das meninas chora durante os vídeos, que fica muito nervosa. Não consegue ler ou copiar no tempo proposto pela professora do vídeo que, na TV, não pode ser pausado. Decidiu, então, que não iam mais utilizar as videoaulas e tentariam fazer as atividades da apostila fornecida pela escola e as ajudaria até onde conseguisse. Em outra casa, o pai de um adolescente relata que não consegue informações junto à escola. Que, onde moram, o sinal de telefonia móvel não pega e o sinal de internet é bem instável. Avalia que o filho não está aprendendo com os vídeos na TV. Não está conseguindo responder a apostila e nem acessar o aplicativo para responder atividades por lá.(Educadora Social que atua na Política de Assistência Social de município do Litoral do Paraná).

 

Não quer dizer que seja falta de interesse.

“Encontramos famílias em cada situação difícil. As vezes, quando as crianças não estão fazendo as atividades dessas aulas, não quer dizer que seja falta de interesse. Até pode ser que a família esteja sendo negligente... mas muitas vezes essa família está tá com problemas. Não nos cabe julgar sem conhecer. Eu tive, por exemplo, que atender uma situação de negligência, por dependência química de um pai que cuida de duas crianças. Sua esposa morreu e ele é uma pessoa esforçada, porque muitos homens abandonam as crianças nessas situações. Mas realmente tá precisando de ajuda e talvez não possa ficar mais com as crianças, porque temos que proteger elas, entende? Só que daí a escola achar que a criança vai conseguir realizar tarefas de aula, numa situação em que todos dormem e comem na única peça da casa (…), é complicado... as escolas vão ter que entender. Tem escolas que entendem, tem diretores, coordenadoras que ajudam. Outras é bem difícil eles compreenderem, porque esperam que a gente resolva. (Conselheira Tutelar de município do Litoral do Paraná).

 

Existe uma distância.

 

(foto do deslocamento de trabalhadores sociais até casa de estudante de Escola Pública em município do litoral do Paraná)

 

 

A casa.

 

 (foto do trabalho de campo, Projeto Lugar de Criança é? da UFPR Litoral. Residência de estudante de escola pública em município do litoral do Paraná)


 Conheça os depoimentos de crianças e familiares publicados hoje, dia 19 de junho, clicando em postagens mais antigas“, ao final desta página (no canto direito inferior).

 

 


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