NOTA DE PESQUISA - AULAS REMOTAS (JUN/2020)

Compartilhamos uma Nota de Pesquisa com uma primeira sistematização dos dados parciais da pesquisa sobre aulas remotas na educação básica do Paraná.

 

Clique no link abaixo e tenha acesso ao arquivo em PDF. 


 NOTA DE PESQUISA - AULAS REMOTAS JUN2020 





AS AULAS REMOTAS ESTÃO FUNCIONANDO? PARA QUEM?

Passaram-se 15 dias após o lançamento desse blog.

Estudantes da rede básica de ensino, seus familiares e também educadores de escolas e de serviços de proteção social, continuam a oferecer seus depoimentos.

O que cada uma dessas pessoas está a nos informar? Até onde suas vozes podem e devem chegar?

Se você acessou esse Blog, poderá nos ajudar a pensar.

Esses relatos e opiniões podem conduzir os leitores tanto a reiterar identidades como a experienciar alteridades.

De nossa parte, podemos testemunhar que, nessas últimas duas semanas, tudo se intensificou. Emoções, conflitos e desgastes se ampliaram nas comunidades escolares.

Tal situação é evidente em todos os cantos do País.

E já está a indicar que é necessário um gesto imediato de qualquer gestor responsável e comprometido com a educação: é preciso dialogar, reavaliar com a comunidade o caminho que a educação pública está trilhando.

Que o caminho atual não é o único, nem o melhor, parece ser a sensível mensagem contida em muitos dos relatos que seguem.

Será essa mensagem capaz de contagiar mais percepções? Seremos capazes de fazê-la ecoar?

Nas publicações de hoje, compartilhamos mensagens de diferentes cidades, em especial do litoral do Paraná, onde realizamos nossas atividades de pesquisa.

Além de crianças e familiares, educadores e agentes sociais têm nos ajudado a capturar certas realidades, através de seus depoimentos, que somam-se agora aos registros de nosso trabalho de pesquisa.

Assim, com a ajuda de uma educadora social e de uma conselheira tutelar, ilustramos a condição de pessoas que seguem invisíveis.

Invisíveis para aplicativos e grupos virtuais. E invisíveis, muito antes, porque naturalizadas em uma posição social de não cidadania.

 

Acompanhe o nosso blog e conheça um pouco dessas histórias.



Conheça também os depoimentos de crianças e familiares publicados hoje, dia 19 de junho, clicando em postagens mais antigas“, ao final desta página.

 


VIDAS QUE NINGUÉM VÊ: RELATOS DE TRABALHADORES SOCIAIS

 Todas as situações ao mesmo tempo.

Trabalho na assistência social acompanhando a situação escolar de crianças e adolescentes atendidos por nosso serviço, que é municipal. Nas visitas domiciliares tenho encontrado famílias preocupadas em sobreviver... algumas não dimensionam o que está acontecendo no planeta. Outras, ainda tendo que lidar com situações de violências de diversas ordens. Em muitos casos, vivem todas as situações ao mesmo tempo. Em uma casa encontrei 6 crianças, onde a responsável tem 3 filhos e estava cuidando de mais 3 crianças, cuja mãe está impossibilitada de cuidá-las. Na pequena e úmida casa, a mulher me dizia que a única TV que possui não é suficiente para que todos acompanhem as videoaulas. Ela tem pego apostilas na escola para estudarem (...). Me mostra uma velha escrivaninha que pretende reformar para as crianças terem onde realizar as tarefas. Em uma outra família, a responsável pelas crianças diz que está muito difícil acompanhar as atividades pela TV. Conta que uma das meninas chora durante os vídeos, que fica muito nervosa. Não consegue ler ou copiar no tempo proposto pela professora do vídeo que, na TV, não pode ser pausado. Decidiu, então, que não iam mais utilizar as videoaulas e tentariam fazer as atividades da apostila fornecida pela escola e as ajudaria até onde conseguisse. Em outra casa, o pai de um adolescente relata que não consegue informações junto à escola. Que, onde moram, o sinal de telefonia móvel não pega e o sinal de internet é bem instável. Avalia que o filho não está aprendendo com os vídeos na TV. Não está conseguindo responder a apostila e nem acessar o aplicativo para responder atividades por lá.(Educadora Social que atua na Política de Assistência Social de município do Litoral do Paraná).

 

Não quer dizer que seja falta de interesse.

“Encontramos famílias em cada situação difícil. As vezes, quando as crianças não estão fazendo as atividades dessas aulas, não quer dizer que seja falta de interesse. Até pode ser que a família esteja sendo negligente... mas muitas vezes essa família está tá com problemas. Não nos cabe julgar sem conhecer. Eu tive, por exemplo, que atender uma situação de negligência, por dependência química de um pai que cuida de duas crianças. Sua esposa morreu e ele é uma pessoa esforçada, porque muitos homens abandonam as crianças nessas situações. Mas realmente tá precisando de ajuda e talvez não possa ficar mais com as crianças, porque temos que proteger elas, entende? Só que daí a escola achar que a criança vai conseguir realizar tarefas de aula, numa situação em que todos dormem e comem na única peça da casa (…), é complicado... as escolas vão ter que entender. Tem escolas que entendem, tem diretores, coordenadoras que ajudam. Outras é bem difícil eles compreenderem, porque esperam que a gente resolva. (Conselheira Tutelar de município do Litoral do Paraná).

 

Existe uma distância.

 

(foto do deslocamento de trabalhadores sociais até casa de estudante de Escola Pública em município do litoral do Paraná)

 

 

A casa.

 

 (foto do trabalho de campo, Projeto Lugar de Criança é? da UFPR Litoral. Residência de estudante de escola pública em município do litoral do Paraná)


 Conheça os depoimentos de crianças e familiares publicados hoje, dia 19 de junho, clicando em postagens mais antigas“, ao final desta página (no canto direito inferior).