Estamos indo dormir após a meia-noite
“A rotina de toda família está extremamente bagunçada, ela
[a filha] tem ido trabalhar conosco todos os dias, pois a escola e recreações
estão fechadas e não temos outra pessoa responsável que possa nos ajudar com os
cuidados dela. Está sendo extremamente difícil, como ela vai trabalhar conosco,
não podemos dar atenção a aulas durante o dia, deixamos para a noite. As aulas
começam as 18:30 e vamos até próximo das 22:30. Sendo assim acaba prejudicando
a nossa alimentação e nossa rotina diária, estamos indo dormir após as 00:00.”
(Mãe de estudante de 7 anos, Escola Municipal no Litoral do Paraná).
A prova de que não está aprendendo
“(…) Fora as cobranças de realizarem as
atividades pelo aplicativo... Ela faz por fazer porque entender mesmo está
difícil. (…) Ela erra mais do que acerta, essa é a prova de que não está
aprendendo nada. Somos super a favor de estudarem neste tempo difícil em casa….
Mas as aulas poderiam ser mais chamativas e atrativas para prender a atenção
dos alunos... Tem uma pressão muito grande sobre a realização das atividades e
de terem notas. O sistema educacional dá a entender que se preocupa apenas com
os números e não qualidade… Vemos os professores enlouquecidos, porque também
não estão dando conta de tudo que estão sendo cobrados.” (mãe de estudante de Escola Estadual do Litoral do Paraná)
Temos acesso e encontramos
dificuldades
Temos
acesso ao canal aberto, ao aplicativo e internet, mas pensamos naqueles que não
tem o mesmo acesso. E, se estamos encontrando dificuldades, imagina os alunos
que não tem as condições! Nós [pai e mãe] concluímos um curso técnico em EAD
por dois anos. Para nós, adultos, encontramos muitas dificuldades de nos
organizar e conseguir nos comprometer. Fora que para entender era bem
complicado... agora imagine para as crianças e adolescentes como está sendo
complicado. (pais de estudante, 12 anos,
de Escola Estadual do Litoral do Paraná).
Pouco proveitosas, exaustivas.
“As aulas têm sido pouco proveitosas, pois são muito
exaustivas e não condizem com a realidade, por serem aulas voltadas
especificamente para a cidade de Curitiba. Nem com o nível de aprendizagem da
criança. Todos os dias minha filha tem chorado e continua falando que aquelas
professoras não são professoras dela, que essas professoras são muito ‘infantis’,
e que ela sente muita falta da escola.” (Mãe de estudante de Escola Municipal no
Litoral do Paraná).
Rapidamente as coisas mudaram
“No começo das aulas remotas, todos ficamos empolgados.
Foi reconfortante fazer contato com as professoras e com os colegas através do
grupo. Pensávamos que seria muito bom para as crianças separar 2h30min do dia
para uma atividade educativa sugerida pela escola. Muito rapidamente as coisas
mudaram. De uma singela recomendação da escola, as aulas remotas se tornaram uma
obrigatoriedade, sendo feita uma chamada pelo WhatsApp, onde alunos tem que
registrar a presença (sob o risco real de ganhar uma falta) e COMPROVAR esta
presença através de fotos das atividades realizadas no caderno para a correção
da professora. (Eu tenho pena da professora que tem que corrigir o caderno - e
os garranchinhos - dos meus filhos através de uma foto de celular).” (pais de estudantes,
de 7 e 8 anos, do 2º e 3º anos em Escola Municipal no Litoral do Paraná).
Pausar, copiar, reforçar: muita
coisa ficando para trás
“Essas aulas, que deveriam durar 2h30min, acabam tomando
5h a 6h do nosso dia em família, pois precisamos pausar os vídeos várias vezes
para que as crianças copiem e realizem as atividades de maneira completa. Temos
que reforçar a explicação muitas vezes, e até recorrer à pesquisa na internet
para que as crianças consigam apreender alguns conteúdos. Muita coisa está
ficando pra trás. A aula de ciências chega a abordar 3 temas complexos
diferentes em uma única aula de 40 minutos (uma das aulas abordou reciclagem,
refração da luz no globo ocular e troca de temperatura - na mesma aula, para o
2º e 3° ano, repito, em 40 minutos).” (mãe
de estudante da Escola Municipal no Litoral do Paraná)
Focada em fazer atividades
“A C. [filha] está com muita dificuldade para assistir as
aulas, porém está bem focada em fazer as atividades passadas pelos
professores. Não está gostando nem um
pouco de assistir aula em casa, prefere que seja presencial.” (Pai de estudante de Escola Estadual do
Litoral do Paraná).
Prova. Avaliação valendo nota.
“Além das aulas pela TV/Youtube, a escola envia atividades
impressas semanais, que tomam mais algumas horas do domingo, que deveria ser o
dia de descanso, para a sua realização. Nesta última semana foi enviada uma atividade
que a coordenadora chamou de ‘Avaliação - Prova’. Prova. Avaliação remota,
valendo nota, valendo a aprovação do aluno, sabendo que muitos dos alunos da
rede municipal sequer conseguiram acessar à primeira aula pela TV ainda.” (Mãe de estudantes da Escola Municipal no Litoral do
Paraná)
Acesso desigual e relevância de
saberes.
“O acesso não é igual para todas as famílias. (...) Estamos
vendo aulas gravadas pela Secretaria Municipal de Curitiba, onde a cidade com
seus bairros, pontos turísticos, história e particularidades é o tema de muitas
das aulas, o que nos faz questionar qual é a relevância desse saber para as
crianças de Matinhos. (...) Acreditamos sinceramente que a Secretaria de Educação de
Matinhos, Escolas e suas equipes, e especialmente quem está na linha de frente
- as professoras - estão fazendo o melhor possível para que este não seja um
‘ano perdido’ para as crianças. Este modelo novo, porém, está gerando muita
ansiedade na nossa família, e nossa rotina virou de cabeça para baixo, com a
falta de interesse crescente das crianças, crises de choro e revolta por não
conseguirem realizar a maioria das atividades sem auxílio de um adulto, falta
de vínculo entre aluno e professor, e a pressão da escola sobre nós, família,
para que tudo seja feito, registrado, correto, comprovado, notificado,
avaliado, etc. Essa cobrança em relação a presença e avaliação, em nossa
opinião, precisa de ajustes.” (Pais
de estudantes de Escola Municipal de Matinhos/PR)
Fica de castigo direto.
“Meu filho não presta atenção, ou faz tudo correndo ou, se
eu não patrulhar (ele fica na sala, eu no escritório) abre um jogo e já era...
Muito difícil, fica de castigo direto. Como mudou de escola no começo do ano,
não teve tempo de criar laços com a turma, não tem vontade participar, não quer
que o vejam no vídeo, sempre bloqueia. Semana passada começou a ter aula de
educação física por vídeo também, ao vivo, antes o professor gravava e enviava
alguma atividade. Ele gostou bastante, mas é limitado o que pode fazer por
morar em apartamento.” (Mãe de
estudante de Escola Particular de Porto Velho/RO).
Tempos difíceis
“Estamos passando por tempos difíceis quanto ao
estudo, pois está complicado. As aulas on-line não dão um suporte necessários
para os alunos. Pelo menos aqui em casa minha filha vê as aulas mas não
consegue entender e compreender a matéria. E não resolve assistir novamente
porque a explicação é a mesma... Não é explicada de modo que tire as dúvidas...
Infelizmente estamos lidando com crianças que não sabem ainda o que é
comprometimento, e claro que as aulas não são atrativas para elas. Minha filha
acaba ficando sozinha em casa para assistir as aulas e sabe como é ... Outras
coisas são mais interessantes que as aulas. (Mãe
de estudante de Escola Estadual do Litoral do Paraná).
Descobrimento das diferenças.
“Do que ele sente
falta? De pessoas da idade dele. (…) Não necessariamente escola… Nas
brincadeiras, nos relacionamentos sadios, nas dificuldades do ego estão muitos
aprendizados da vida. Acho que os que realmente importam...... Porque
conteúdos, graças à tecnologia e à internet, as crianças poderão ter a
possibilidade de carregá-los na palma da mão. Mas penso que o descobrimento das
diferenças e do mundo, o autoconhecimento e a empatia se fortaleçam nas
interações em grupo, com orientação consciente. Para que as crianças saibam
COMO utilizar as informações disponíveis de forma construtiva para o todo..”
(mãe de estudante, Escola Municipal de Guaratuba/PR).
Pior ter a mãe no lugar da professora.
“Quando não é possível o meu
acompanhamento, percebo que, na maioria das vezes, não há absorção do contexto,
apenas cópia do conteúdo. Embora tente disfarçar, julgo muuuuito cansativa a
dependência que ele tem de mim para absorver as aulas diariamente. Imagino que
pra ele seja ainda pior ter a mãe no lugar da professora.” (Mãe de estudante
de 8 anos, Escola Estadual do Litoral do Paraná).
Relatam experiências sobre o isolamento.
“A
Professora do meu filho abriu um whats
para conversar e auxiliar nas tarefas escolares, que também serve para estes
conversarem sobre o momento. (…) As tarefas tentam sempre tratar de incluir um
pensamento sobre o momento de isolamento, reflexões sobre tudo isto, que as
crianças periodicamente relatem suas experiências de isolamento, que atividades
fazem, e por aí afora.” (Pai de estudante, Escola Particular de Curitiba–
PR).
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